Caracterização da ideia - II

Keywords
T-shirt – Identidade Visual – Comunicação – Wearable Technology

Sinopse
Procura-se tirar partido das wearable technologies, particularmente das tecnologias digitais e electrónicas, para criar um projecto artístico. A t-shirt, encarada como um elemento importante na construção da nossa identidade visual, vê, neste trabalho, potenciada a sua capacidade de reflectir visualmente a identidade de quem a veste. Por isso, quando essa identidade é trocada com outros, conduz-se ao diálogo. Provocado por esse acontecimento original, que alarga a possibilidade de verificar compatibilidades e incompatibilidades entre os participantes.

Apresentação da ideia/projecto
Este projecto pretende levar as pessoas a expressarem mais conscientemente a sua identidade visual, através da escolha de uma t-shirt com tecnologia digital e electrónica incorporada. Cada t-shirt apresenta não apenas uma imagem gráfica, mas uma animação (construída visualmente com uma matriz de LEDs, e portanto luminosa), na parte da frente, que pode ser alterada dinamicamente. Essa animação está inserida num elemento gráfico maior, uma imagem fixa também na frente da t-shirt.
Ao escolher uma t-shirt em vez de outra, a pessoa está a mostrar a sua preferência, a optar por uma t-shirt que irá causar a primeira impressão que os outros terão de si, enquanto a tiver vestida. A animação que está nessa t-shirt identifica a pessoa, faz parte da sua identidade visual.
Quando duas pessoas com t-shirts deste projecto se cruzarem, as suas identidades visuais animadas trocam, fazendo com que cada pessoa veja incorporada na sua t-shirt a identidade visual do outro e vice-versa. Como é somente a parte animada da t-shirt que se altera entre as duas t-shirts, a identidade visual do outro insere-se melhor ou pior no restante aspecto gráfico da t-shirt. Isso permite às pessoas observar as compatibilidades e incompatibilidades existentes entre si, conduzindo possivelmente ao diálogo.
A troca de identidades é temporária, sendo que, passado algum tempo, cada um volta a exibir a sua própria identidade, mantendo a sua capacidade de a voltar a trocá-la com outros.

Evolução do papel da T-shirt na sociedade e na arte

“As t-shirts deixaram de fazer parte do armário de roupa interior e converteram-se, desde há mais de vinte anos, num vestuário exterior básico. Camaleónica, a t-shirt sobreviveu a modas e tendências, passando a ser uma peça de vestuário muito barata, a ter um papel importantíssimo nas colecções dos grandes desenhadores de alta-costura internacional (…).
Hoje, a t-shirt é a peça de vestuário fundamental, eleita para o vestir quotidiano de milhões de pessoas em todo o mundo”
[1]
Marlon Brando, John Wayne e James Dean foram algumas das estrelas dos anos 50 a chocar o mundo por aparecerem em filmes de t-shirt, ainda considerada como roupa interior.[2] No filme Rebel Without A Cause (1955), James Dean conseguiu associar a t-shirt à rebeldia da juventude.[3] Sendo que, nos anos 60, a t-shirt era já vista como um símbolo de individualidade, criando-se as várias variantes da t-shirt como os diversos tipos de tops.[4]
Nos anos 70, começou a ser consumida em massa, por ser uma peça de vestuário muito barata e versátil.[5] As marcas usaram-na para aplicar os seus logótipos e os desportistas para treinar.[6] A partir dos anos 80, os estilistas de alta-costura, como Armani e Calvin Klein, adoptaram a t-shirt nas suas colecções, ganhando fortunas ao fazê-lo.[7] Além disso, a t-shirt passou a ser usada como material para a transmissão de mensagens sociais, políticas e de protesto.[8]
A partir daí, a popularidade das t-shirts foi crescendo sempre, sendo uma peça usada numa grande multiplicidade de situações, tanto por raparigas como por rapazes.[9] Está intimamente ligada ao desporto, tal como está ao estilo mais descontraído, sem deixar de fazer parte da colecção de estilista de renome.Actualmente, as t-shirts reúnem à sua volta uma grande quantidade de pessoas que gosta tanto de vesti-las como de criar o seu aspecto gráfico. Usam-nas como uma tela onde criam o seu trabalho artístico. Dessa forma, têm o gosto de ver a t-shirt criada ser escolhida e vestida pelos outros, passando de certa maneira a fazer parte deles e andando pelo mundo a divulgar o seu trabalho. “Hay un paso entre gustarte algo y hacerlo parte de ti mismo, y creo que las camisetas son capaces de dar esse paso.”[10], diz Elena Gallen na sua entrevista para o livro de Louis Bou.

[1,10] BOU, Louis – Street T camisetas. Barcelona: Instituto Monsa de Ediciones, 2008, p.9,10;
[2-9] DAVIS, Johnny – SHOWstudio/Play: And all I got is this lousy T-shirt. In: http://www.showstudio.com/projects/tsh/tsh_text.html

Mais Projectos de Wearable Technology


Intimate Memory, de Joanna Berzowska consiste em duas peças de roupa, uma camisa e uma saia, que revelam os contactos íntimos que a pessoa teve e há quanto tempo aconteceram. O número de contactos íntimos que temos e a frequência com que ocorrem, são factos reveladores sobre a nossa pessoa, fazem parte da nossa identidade. Com este projecto artístico, isso pode ser visualizado por nós e pelas pessoas com quem nos cruzamos. O colarinho da camisa tem um microfone de alta sensibilidade, que detecta quando alguém nos sussurra algo ao ouvido.Transmite essa informação para as luzes presentes da saia, que se iluminam. Estas vão perdendo a luminosidade à medida que o tempo desde o último contacto se estende.


Fashion Victims é um projecto criado por Agnelli Davide, Buzzini Dario e Drori Tal, que pode juntar pessoas em torno de um objectivo comum, devido à sua originalidade. Visa chamar a atenção para a quantidade de vezes que todos nós utilizamos o telemóvel e o facto deste emitir radiações. Dessa forma, criaram três peças de roupa, um chapéu, uma camisola e uma bolsa, que reagem à quantidade de telefonemas que têm em seu redor. Uma vez que a utilização do telemóvel nos afecta a nível físico, psicológico e social, as peças de vestuário alteram-se permanentemente, “sangrando”. O dispositivo pode ser ligado ou desligado quando se quiser, podendo mesmo ser removido da bolsa, embora os dados provocados pelas chamadas telefónicas não possam ser revertidos. Este projecto além de salientar o uso pessoal do telemóvel, realça também a responsabilidade da comunidade sobre aquela peça de roupa. Depende dos seus actos, da decisão de fazer ou não um telefonema, aquele vestuário “sangrar” ou não. Por se tratar de um comportamento tão inesperado e marcante, este trabalho levará certamente as pessoas a comunicarem e talvez até a interagirem para manter a roupa o mais imaculada possível ou “ensanguentá-la”.



Closer: Wearables for a distant society, de Alison Lewis pretende mostrar o quão importante é o toque para o ser humano. É composto por dois pullovers que podem funcionar em conjunto ou separados. Ambos induzem ao toque, tanto pelos tecidos escolhidos para as zonas do corpo mais frequentemente tocadas num abraço ou toque positivo, como pelos comportamentos que manifestam. Patsy, o pullover sonoro, emite sons agradáveis e divertidos quando tocado. Enquanto Filly, o pullover de efeitos visuais, mostra pela cor de um pequeno dispositivo que tem incorporado, o número de contactos positivos que a pessoa teve na última hora ou a falta deles.

Projectos de Wearable Technology do Studio 5050

O Studio 5050 criou igualmente alguns projectos com interesse a nível artístico, privilegiando o contacto entre as pessoas e a sua proximidade, induzindo-as a comunicar.



O projecto Embrace-me, procura conduzir as pessoas ao contacto físico e pessoal. Cada hoodie tem um padrão à frente, construído com tecido condutor. Quando dois hoodies se juntam, ou seja, quando duas pessoas se abraçam, a electricidade passa entre eles, simbolizando a passagem de energia através do abraço. Acendem-se luzes na parte de trás de cada hoodie e é emitido também um som. Assim, é provável que as pessoas que usam esta roupa se abracem, devido quer ao factor simbólico, quer ao divertimento.


Por seu lado, LoveJackets
reflecte já uma outra abordagem, que implica proximidade, mas não necessariamente contacto físico. Este trabalho pode salientar a todos os presentes o amor ou amizade que une duas pessoas, tal como pode aproximar dois desconhecidos, levando-os a comunicar entre si. Cada casaco tem um par único e, quando se reconhecem, emitem um som e os LEDs piscam, revelando-o.

Projectos de Wearable Technology da CuteCircuit

Projectos de vestuário da CuteCircuit, que pretendem obter uma peça de roupa que permita ao público feminino, alterá-la ao longo do dia. Essa transformação dá-se conforme a disposição da mulher.



O vestido Mystique procura reflectir as mudanças que se dão ao longo de um dia ou de uma noite de festa. Inicialmente, a mulher sente-se mais reservada, apresentando um vestido cinza pelo joelho. À medida que o tempo passa, vai-se sentindo mais à vontade no espaço onde se encontra, realçando a sua própria sensualidade e glamour. O vestido vai-se desdobrando, tornando-se cada vez mais comprido e revelando a sua outra cor, vermelho vivo. Este projecto pretende ainda levar as mulheres a usar vestidos realmente compridos, realçando-se sem culpas, uma vez que estas transformações (que ocorrem em quatro fases) se processam de modo automático. O vestido encontra-se dobrado, com o lado cinzento do tecido por fora. Do lado vermelho existem ímanes e peças metálicas que fazem com que o vestido permaneça dobrado. À medida que o tempo passa, os ímanes são desligados, soltando as peças metálicas e o tecido começa a descer, desdobrando-se e revelando o seu lado vermelho.

Kinetic Dress revela o nível de agitação da mulher ao acender círculos luminosos na saia do vestido. Quando a pessoa se encontra quieta e calma, sentada, por exemplo, apresenta um vestido preto. Mas quando se movimenta ou interage com outros, os círculos vão-se iluminando progressivamente. Quanto mais iluminada estiver a saia do vestido, mais agitada está a mulher que o veste, salientando-se assim de entre os presentes. Com este vestido, a mulher pode visualizar o seu estado de agitação e comunicá-lo aos outros de uma forma alternativa.


O projecto Skirteleon pretende deixar nas mãos da mulher decidir qual o seu aspecto durante o dia, sem necessidade de trocar de roupa. Com esta saia, a mulher pode alterar-lhe o aspecto, através do toque ou de pré-programação. No seu estado inicial, a saia é azul, podendo passar a revelar padrões geométricos ou figuras de animais, vermelhos com fundo branco. Trata-se de uma peça de roupa desenhada para condizer com o estado de espírito de quem a veste, adequando-se ao local onde se encontra, por ordem da mulher. Aqui, de uma forma plenamente consciente, ao contrário do que acontecia com os projectos anteriores, a mulher revela aos outros o seu lado mais reservado ou divertido, quando muito bem entende.


Um outro projecto da CuteCircuit está intimamente ligado à interacção entre as pessoas. The Hug Shirt é uma camisola que funciona como um acessório Bluetooth para o telemóvel. Com esta camisola, podemos dar e receber abraços a/de pessoas que se encontrem a quilómetros de distância. Trata-se de uma peça de roupa que nos permite comunicar com os outros de forma íntima, através do toque. Cada camisola tem zonas marcadas visualmente, com sensores e actuadores. Os sensores detectam se essa zona foi tocada, com quanta força, durante quanto tempo, etc. e enviam essa informação para o telemóvel. Este por sua vez envia uma mensagem para a pessoa que escolhermos e o telemóvel dessa pessoa, envia os dados para os actuadores que a reproduzem. A pessoa sente-se então abraçada, mesmo que não o esteja a ser pessoalmente. Este tipo de contacto físico, não pretendendo nunca substituir o contacto real, é uma forma agradável de comunicar aos outros que gostamos deles e “estamos” com eles.


Accessorie Nerve necessita da existência de comunicação, todavia, esta pode ser realizada à distância. Com este acessório Bluetooth para o telemóvel, a roupa onde o acessório estiver ligado mostra-nos quem nos está a telefonar. Ou seja, da mesma forma que escolhemos um toque de telemóvel diferente para cada pessoa que nos telefona, para sabermos quem é antes mesmo de olharmos para o telemóvel, com este acessório, a roupa transforma-se, apresentando um padrão de pregas individual para cada contacto. A nossa roupa altera-se, modificando o nosso aspecto conforme as pessoas que nos contactam. Podemos visualizá-las, de uma nova forma, através das pregas da nossa roupa. Se não pudermos atender, basta alisar as pregas formadas, para que o telemóvel envie uma mensagem à pessoa a avisar que ligaremos mais tarde.

O papel do vestuário na sociedade

O papel do vestuário na sociedade foi sofrendo grandes alterações desde os tempos em que apenas servia para nos proteger dos elementos externos como o calor e o frio, o sol e a chuva. Passou a servir como elemento de distinção entre os Homens, identificando classes trabalhadoras, como os bombeiros e a polícia, por exemplo. Permite ainda reconhecer situações sociais específicas, tais como casamentos e funerais. É também símbolo de status, distinguindo, pela aparência, quem tem mais ou menos dinheiro e sofisticação, através das marcas de roupa que veste.

De uma forma subtil e nem sempre consciente, a escolha de uma determinada peça de roupa revela bastante sobre as preferências de uma pessoa e, por isso, sobre a sua identidade. A indumentária é um “cartão de visita”, introduz e dá aos outros uma primeira impressão, sem necessidade de mais nada que não seja escolhê-la e vesti-la. O vestuário pode juntar pessoas, unindo-as numa causa (campanhas políticas, manifestações) ou numa filosofia de vida (hippies, betos, góticos, etc.), por exemplo. Tende a afastar pessoas desconhecidas com gostos muito diferentes, por se subentender que não deve existir grande afinidade entre elas, mesmo noutros âmbitos.
Actualmente, há diversos estudos e projectos em desenvolvimento na área da Wearable Technology, que pretendem voltar a modificar o vestuário e a maneira como o vemos. A Wearable Technology tem vindo a desenvolver-se de forma mais sistemática desde os finais do século passado. Procura-se dar à roupa um papel mais activo, com recurso à tecnologia